domingo, 1 de abril de 2018

Temporalidade e saberes inscritos em ruínas e memórias de Camilla Agostini

Neste artigo a Autora trata da pesquisa desenvolvida por ela no complexo de ruínas na praia do Sahy, litoral sul do Rio de Janeiro. O complexo é caracterizado como um local de venda e preparação de africanos escravizados durante a ilegalidade da prática pelas Lei Feijó (1831) e Lei Euzébio de Queiroz (1850). Não se resumindo só a esse momento histórico, é demonstrado que o espaço pesquisado guarda outras temporalidades que se misturam, problemática trabalhada pela Autora. 

Camilla Agostini se formou em Arqueologia pela Estácio de Sá em 1997, se especializou em História da África pela Universidade Cândido Mendes um ano depois, tornou-se mestre em História pela Universidade Estadual de Campinas em 2002 e doutora pela Universidade Federal Fluminense com tese entre os campos da história e arqueologia da escravidão em 2011. Organizou o livro "Objetos da Escravidão: abordagens sobre a cultura material da escravidão e seu legado" em 2013 e ganhou o prêmio Luiz de Castro Faria em 2017 com o artigo analisado neste texto. Hoje é professora adjunta do Departamento de Arqueologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.  

A documentação histórica remonta o local estudado à sesmaria de Martim de Sá, de lá até as primeiras referências às ruínas, em um mapa de 1767 que identifica como pertencente à família Suzano, houve sucessivas fragmentações e reintegrações da área. Gabriel Antônio de Montebello é identificado como sendo o responsável pelo último episódio desse processo, reunindo as terras das ruínas, do Engenho do Gago e das terras no Vale Contíguo, entre 1833 e 1868. É também associado a tráfico ilegal de africanos escravizados. Os documentos históricos, o registro arqueológico e a memória da população atual indicam a ligação entre as ruínas e essa atividade, como descrito pela autora. 

As ruínas então identificadas como sítio foram submetidas a investigação científica arqueológica. Durante a prática de campoa pesquisadora relata que teve uma outra visão sobre o espaço, percebeu que além de sítio arqueológico, tinha também outros usos no tempo contemporâneo, era frequentado por banhistas, usado para atividades religiosas da Umbanda e marcado como um lugar de memória. O insight é o entendimento que as temporalidades coexistem e se misturam, sendo necessário para a análise do todo um outro olhar para o local. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Sambaquis, monumentos do nosso passado

Sambaquis vêm ganhando mais e mais espaço nas discussões acerca da pré-história brasileira, fato é que esse tipo de sítio aparece no litoral de quase todo o Oceano Atlântico, sendo bastante comuns nas costas do Brasil, Dinamarca, Canadá e Portugal e é tema de interesse científico desde a metade do século XX. A origem da palavra Sambaqui vem do Tupi, tamba que significa concha e ki amontoado, a união desses dois termos acabou por se tornar, com o uso, o termo atual Sambaqui, porem há outros nomes que são usados internacionalmente, como Shellmouds, literalmente "monte de conchas", nos países de língua inglesa, Kjökkenmodding na Dinamarca e Conchales em diversos países de língua latina. Tais monumentos esquecidos no meio da nossa paisagem são marcos extraordinários de nossa história, milênios antes da chegada dos Europeus e até mesmo da chegada das atuais populações indígenas do litoral.

Sambaqui da Figueirinha I em Jaguaruna (SC).
 Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sambaqui

Maria Dulce Barcellos Gaspar de Oliveira, doutora em arqueologia pela USP e professora colaboradora da Universidade federal do Rio de Janeiro (UFRJ) define Sambaqui: "Os sítios são caracterizados basicamente por serem uma elevação de forma arredondada que, em algumas regiões do Brasil, chega a ter mais de 30 metros de altura. São construídos basicamente com restos faunísticos como conchas, ossos de peixe e mamíferos. Ocorrem também frutos e sementes, sendo que determinadas áreas dos sítios foram espaços dedicados ao ritual funerário e lá foram sepultados homens, mulheres e crianças de diferentes idades. Contam igualmente com inúmeros  artefatos de pedra e de osso, marcas de estacas e manchas de fogueira, que compõem  uma intrincada estratigrafia." (Gaspar, M. D.,  Descobrindo o Brasil, Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro, 2014, p. 9). 

quinta-feira, 21 de julho de 2016

A construção e as transformações do Panteão de Roma

O Panteão localizado na Piazza della Rotonda em Roma na Itália é um dos mais impressionantes templos do antigo Império Romano, construído originalmente para adoração de todos os deuses cultuados pelos romanos, hoje é oficialmente uma igreja católica desde o século VII, sendo chamado de  Santa Maria ad Martyres (Santa Maria e os Mártires), porem sua construção e reformas são ainda um tema de discussão entre os arqueólogos, sua história não é muito clara, restando algumas lacunas a serem preenchidas.

Frente do Panteão hoje, fonte: casablanca.tur.br
A primeira coisa a se notar quando está de frente ao Panteão são suas 20 altas colunas de granito no estilo coríntio sustentando um frontão com a seguinte inscrição:
M.AGRIPPA.L.F.COS.TERTIVM.FECIT (Marcus Agrippa Lucii Filius consul tertium fecit) em tradução livre; Marcus agrippa filho de Lúcio fez este edifício quando cônsul pela terceira vez.  Seguida de uma porta de Bronze que levam para o interior do templo.

Seu interior é complexo e cheio de elementos cristãos que foram adicionados com o tempo,
como por exemplo os altares encomendados pelo Papa Clemente XI, obras como a Adoração dos Pastores e a Adoração dos Magos de Francesco Cozza e esculturas como Santa Ana e Virgem de Il Lorezone, para citar alguns. Assim como túmulos de pessoas  importantes como o Rei Vitor Emanuel II e os Restos mortais do artista Rafael Sanzio. Além dos mosaicos no chão em formas de círculos e quadrados, formas muito apreciadas pelo