Neste artigo a Autora trata da pesquisa desenvolvida por ela
no complexo de ruínas na praia do Sahy, litoral sul do Rio de Janeiro. O complexo
é caracterizado como um local de venda e preparação de africanos escravizados
durante a ilegalidade da prática pelas Lei Feijó (1831) e Lei Euzébio de
Queiroz (1850). Não se resumindo só a esse momento histórico, é demonstrado que
o espaço pesquisado guarda outras temporalidades que se misturam, problemática
trabalhada pela Autora.
Camilla
Agostini se formou em Arqueologia pela Estácio de Sá em 1997, se especializou
em História da África pela Universidade Cândido Mendes um ano depois, tornou-se
mestre em História pela Universidade Estadual de Campinas em 2002 e doutora
pela Universidade Federal Fluminense com tese entre os campos da história e
arqueologia da escravidão em 2011. Organizou o livro "Objetos da Escravidão: abordagens sobre a cultura
material da escravidão e seu legado" em 2013 e ganhou o prêmio Luiz de
Castro Faria em 2017 com o artigo analisado neste texto. Hoje é professora adjunta do Departamento de
Arqueologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
A documentação histórica remonta o local estudado à sesmaria de Martim de Sá, de lá até as
primeiras referências às ruínas, em um mapa de 1767 que identifica como
pertencente à família Suzano, houve sucessivas fragmentações e reintegrações da
área. Gabriel Antônio de Montebello é
identificado como sendo o responsável pelo último episódio desse processo,
reunindo as terras das ruínas, do Engenho do Gago e das terras no Vale Contíguo, entre 1833 e 1868. É também associado a tráfico ilegal de africanos
escravizados. Os documentos históricos, o registro arqueológico e a memória da
população atual indicam a ligação entre as ruínas e essa atividade, como descrito pela autora.
As ruínas então identificadas como sítio foram
submetidas a investigação científica arqueológica. Durante a prática de campo, a pesquisadora relata que teve uma outra visão sobre
o espaço, percebeu que além de sítio arqueológico, tinha também outros usos no tempo
contemporâneo, era frequentado por banhistas, usado para atividades religiosas da Umbanda e marcado como um lugar de memória. O insight é o entendimento que as temporalidades coexistem e se
misturam, sendo necessário para a análise do todo um outro olhar para o local.