quinta-feira, 21 de julho de 2016

A construção e as transformações do Panteão de Roma

O Panteão localizado na Piazza della Rotonda em Roma na Itália é um dos mais impressionantes templos do antigo Império Romano, construído originalmente para adoração de todos os deuses cultuados pelos romanos, hoje é oficialmente uma igreja católica desde o século VII, sendo chamado de  Santa Maria ad Martyres (Santa Maria e os Mártires), porem sua construção e reformas são ainda um tema de discussão entre os arqueólogos, sua história não é muito clara, restando algumas lacunas a serem preenchidas.

Frente do Panteão hoje, fonte: casablanca.tur.br
A primeira coisa a se notar quando está de frente ao Panteão são suas 20 altas colunas de granito no estilo coríntio sustentando um frontão com a seguinte inscrição:
M.AGRIPPA.L.F.COS.TERTIVM.FECIT (Marcus Agrippa Lucii Filius consul tertium fecit) em tradução livre; Marcus agrippa filho de Lúcio fez este edifício quando cônsul pela terceira vez.  Seguida de uma porta de Bronze que levam para o interior do templo.

Seu interior é complexo e cheio de elementos cristãos que foram adicionados com o tempo,
como por exemplo os altares encomendados pelo Papa Clemente XI, obras como a Adoração dos Pastores e a Adoração dos Magos de Francesco Cozza e esculturas como Santa Ana e Virgem de Il Lorezone, para citar alguns. Assim como túmulos de pessoas  importantes como o Rei Vitor Emanuel II e os Restos mortais do artista Rafael Sanzio. Além dos mosaicos no chão em formas de círculos e quadrados, formas muito apreciadas pelo
imperador Adriano e acima disso tudo uma enorme cúpula, a maior cúpula de concreto não reforçado do mundo, tendo 43,5 metros de altura e diâmetro ou 150 pés romanos e uma abertura no topo de 8 metros, ela é  sem dúvidas um grande exemplo da incrível arquitetura romana.

Porem sua forma hoje é bem diferente da original, o Panteão foi constantemente modificado ao longo do tempo, sua construção original se deve ao General, Arquiteto e Cônsul Marco Vipsânio Agrippa entre 29 e 19 a.C, durante o império de Augusto, como é mostrado até hoje no frontão, uma das únicas partes do Panteão de Agrippa ainda em pé, onde, além da inscrição com o nome do General havia também esculturas em baixo relevo feitas de bronze siracussano assim como os capiteis eram do mesmo bronze, tal informação é encontrada no único relato de uma testemunha ocular do Panteão, o livro História Natural de Plínio o Velho publicado entre 77 d.C e 79 d.C, também é descrito o artista: "O Panteão de Agrippa foi decorado por Diógenes de Atenas a as cariátides, dele, que formam as colunas do templo, são consideradas obras-primas da excelência, o mesmo, também, para as estátuas colocadas no teto." (Plínio o Velho, História Natural, p.34).

Rodolfo Lanciani, arqueólogo italiano pioneiro em topografia da antiga Roma, foi um dos mais importantes arqueólogos no estudo do Panteão, tendo publicado em Junho de 1893 um artigo com sua s principais conclusões, intitulado de New facts concerning the Pantheon, nele Lanciani descreve a trajetória do Panteão ate os dias atuais, segundo ele o Panteão foi destruído por fogo duas vezes, a primeira em 80 d.C durante o governo de Tito Flavio e reconstruído por Domiciniano e uma segunda vez em 110 d.C atingido por um raio durante o governo de Trajano sendo reconstruído por Antoninus Pius quase do zero em 120 d.C durante o governo de Adriano, momento em que ele ganha sua forma atual com a Rotunda.

Planta das fundações do Panteão, fonte: R. Lanciani, The Ruins and
Excavations of Ancient Rome, 1897, p.474.

"The Rotunda in obviously disjointed from the portico, and their architectural lines are not in harmony with each other." (R. Lanciani, The Atlantic Monthly, Vol. LXXI, Nº CCCCXXVII New facts concerning the Pantheon, june, 1893, p.1)

O argumento de Lanciani sobre as datas das restaurações se baseia em grande parte em escavações no Panteão e nas observações feitas por Monsieur Loius Chedanne acerca dos tijolos do Panteão que sugerem que sua ultima construção vem da época de Adriano, porem a conclusão mais surpreendente do Arqueólogo e que a forma original do monumento não era redonda com a Rotunda e sim em forma de T e com a entrada virada para o sul e não para o norte como é hoje, muito parecido com templos da época.

 Tal argumento não  é sustentado por todos os Arqueólogos, Heilmeye e Lise Hethand por exemplo defendem que a ultima construção aconteceu no governo de Trajano, argumento baseado em evidencias estilísticas que indicam que o famoso arquiteto de Trajano, Apolodoro de Damasco, teria sido o responsável pela construção. Adam Ziolkowski  do departamento de história da universidade de Warsaw parece concordar com Lanciani sobre a forma do Panteão de Agrippa, e questiona sobre a função original do Panteão, segundo ele a forma e a inscrição no frontão sugerem que ele era um prédio publico dedicado a vários deuses e não um prédio particular.

"With this trait, Agrippa`s Pantheon would have made a passable public hall before the second, or already the firt rebuilding, provided the opportunity to bring its architecture into line with its current function." (A. Ziolkowski, The Pantheon in Rome - Contributions to the Conference Bern, November 9 - 12, 2006, Bern 2009, What did Agrippa`s Pantheon look like? New Answers to an Old Question, p. 36.)

Como pode ser visto, a forma e função do Panteão, assim como as datas de reconstrução e de reforma e as mudanças que cada uma delas acarretou, ainda estão sendo discutidas por arqueólogos como Adam Ziolkowski, Pieter Broucke e Lise Hetland. A cada nova escavação mais dados são gerados, porém as interpretações destes são difíceis. As maiores duvidas estão sobre a ultima reforma, se foi feita no governo de Adriano ou Trajano e ainda quando ele assume sua forma circular com a Rotunda, sendo possível que tenha ganho essa forma na reforma de Domiciniano, depois do primeiro incêndio ou na segunda reforma depois do incêndio em 110 d.C. Um dos mais impressionantes monumentos do Império Romano continua a nos intrigar  séculos depois do seu surgimento, uma história que ainda não foi concluída e contêm várias páginas faltando.



Escrito por:
Arthur Braga Alves

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